Uma família, três gerações, e uma virtude em comum: o amor devotado ao Ministério Público de Alagoas.
Entrevistamos uma família que traz, em sua essência, um traço singular e distintivo: o devotamento ao MPAL. Avô, Filha e Neto abrilhantam os quadros do MPAL. Três gerações unidas pelo Direito. Um ideal sublime e elevado os inspira na busca incessante e irrenunciável da realização da justiça. Veremos os olhos cintilantes da Filha, a Procuradora Denise Guimarães, marejarem-se de lágrimas ao referir-se aos seus pais, num preito de eterna gratidão. Vê-la-emos, também, com voz embargada e comovente emoção, discorrer sobre a carreira de seu filho, o Promotor de Justiça Dênis Guimarães.
Procuradora de Justiça Denise Guimarães
Qual foi sua inspiração para decidir estudar Direito e concorrer a uma vaga no Ministério Público do Estado de Alagoas? Foi apenas o seu pai?
A inspiração para decidir estudar Direito veio do meu pai, até porque, na época dos anos 80, ou seja, antes da Constituição, o MP não tinha todo esse amplo espectro de atuação, que o lançou a uma das mais respeitadas instituições do nosso País. Em verdade, o MP caracterizava-se pela destacada atuação criminal, notadamente, no plenário do Tribunal do Júri. Lembro-me que uma das coisas que mais me orgulhava, era quando meu pai, colocava as fitas cassete no carro, logo após sua atuação nos júris e ficava ouvido para se aperfeiçoar ou fazer autoanálise de sua postura como promotor de Justiça do interior. Eu ouvia aquilo perplexa, eu dizia comigo mesma: “Um dia vou fazer um júri desses”, mas eu não sabia como seria, e quantos caminhos e ladeiras precisaria ultrapassar para alcançar esse desiderato. O fato é que não medi esforços e comecei a me preparar para o vestibular. No colégio me perguntavam: o que era que eu queria ser? Eu dizia que queria ser Promotora de Justiça e, para ser Promotora, precisava fazer o curso de Direito. Eu fiz Direito. Quando concluí o curso de Direito, com apenas 22 anos de idade, inscrevi-me, quase que simultaneamente, para o concurso do MP/AL. Não eram muitos candidatos inscritos, se não me falha a memória, não chegaram a mil inscritos. Eu e muitos da minha turma de faculdade, fizemos a inscrição apenas com a certidão de conclusão de curso, apresentando o diploma de bacharel em direito posteriormente, e antes da realização das provas. Graças a Deus, fiz as provas, passei por muita dificuldade e confesso que meu pai não acreditava, ele me achava muito nova para enfrentar aquele mundo jurídico de Ministério Público e dizia que eu ia ganhar experiência e minha mãe dizia que eu seria Promotora de Justiça e foi tudo muito rápido em 1983.
Eu me recordo que meu pai dizia: “quando você tiver fazendo o júri, não fique naquela tribuna parada, saia daquela tribuna e fique defronte do conselho de júri, que seriam pelos Procuradores de Justiça e representante da OAB que estariam fazendo essa avaliação. Esses ensinamentos do meu pai eu levo comigo até hoje. Eu fiz isso, saí da tribuna e fui postar-me defronte dos procuradores. Lembro-me que olhava para cada um nos olhos como se eles fossem os verdadeiros jurados e, na época, isso foi muito positivo.
Ingresso no MP – Quando ingressei no Ministério Público, em janeiro de 1984, não era exigido os três anos de experiência jurídica. Conclui meu curso de Direito na UFAL em 1983 e por ser uma aluna bem aplicada encarei logo esse concurso, onde foi tudo muito rápido. Entre edital, provas e nomeação, a duração foi de apenas 06 (seis) meses, fui aprovada em 8º lugar, e em janeiro de 1984 já fui encarar de frente a realidade de ser Promotora de Justiça, no interior, em uma época muito difícil. Quando estava nomeada, já promotora de Justiça, em maio, engravidei e disse: futuro promotor. Já na festa de fim de ano (em nossa confraternização), quando cheguei na festa, com a barriguinha de 7 meses, bem à mostra, a primeira pessoa que me deparei foi um colega que disse: Já está grávida? é por isso que o MP não vai pra frente com tanta promotora. Eu olhei assim e disse: mas, esse aqui vai ser um promotor.
Assim, foi uma conquista que passou do meu pai para mim, e de mim para o meu filho, porque eu já estava encantada com a família ministerial. E aí essa geração de pai para filho passou de mãe para neto e hoje eu tenho meu filho que já enfrentou seu concurso, o qual não teve a duração de seis meses como o meu, e sim, seis (seis) anos entre o concurso, homologação e nomeação. Mas, sempre crentes e acreditando em Deus, que a vontade Dele era maior que tudo, e, confiava que seria nomeado em Alagoas. Tenho três filhos: além de Dênis, tem Arthur que é Engenheiro de software e reside em San Diego e Paula que fazia Direito, mas optou em ser Designer de Moda e mora em Los Angeles, ambos na Califórnia. Então, Dênis teria que ficar em Alagoas, pois, só assim teria um filho no meu dia a dia junto comigo fisicamente, e assim, Deus me deu mais essa felicidade. Painho é só orgulho, hoje com 88 anos de idade, em pleno gozo de suas faculdades mentais, vibra com cada conquista nossa. Fui promovida a Procuradora de Justiça, em 2014, e vou até confessar aqui, que na época eu tinha quinze anos de consumidor, e não estava satisfeita em deixar a Promotoria do Consumidor, onde já tinha me especializado, tinha resultados muito produtivos do trabalho que desempenhava junto com meu esposo, que é Promotor do Consumidor, então, pensei em renunciar a promoção por antiguidade. Quando o meu pai teve conhecimento dessa minha pretensão, só faltou me dizer que era a maior tristeza que eu podia lhe causar, pois promoção por antiguidade não se rejeita. Ele disse: você vai ser agora porque eu quero lhe dar a sua posse. E, assim foi feito. Há cinco anos, ele entrou comigo para eu tomar posse, o procurador-geral de Justiça, Dr. Sérgio Jucá quebrou até o protocolo, porque painho já estava aposentado como procurador de Justiça. Foi uma solenidade com muita emoção, onde verdadeiros amigos compareceram, e guardarei em minha memória o resto de minha vida. E, finalmente, a posse do meu filho que foi lindíssima com Dr. Alfredo Gaspar que fez uma referência muito bonita a minha família, me permitindo usar da palavra pra fazer o discurso a todos os empossados.
O orgulho que tenho mal cabe no meu peito, é muita alegria e agradecimento eterno. Caso eu falasse que foi fácil, estaria faltando com a verdade, as dificuldades principalmente para a mulher foram difíceis no interior, mas valeu a pena, e, faria tudo de novo. Meu filho já tem mais de um ano no MP, mas já vivenciou mais de trinta anos pois, ainda no ventre, viajava comigo para interior, onde fiz meu primeiro júri. Acredito até que estou fabricando uma toguinha, só que cor de rosa para a filha dele que, como uma linda homenagem tem o mesmo nome da minha mãe, Júlia. Quem sabe daqui a vinte e poucos anos será a quarta geração?
Promotor de Justiça Dênis Guimarães
Qual foi sua inspiração para fazer Direito?
Na verdade, para fazer Direito, eu não tive nem muita escolha. Quando perguntavam o que eu queria ser, eu dizia Promotor de Justiça, mas não sabia responder porque. Eu via minha mãe como Promotora de Justiça com aquela máquina datilográfica ainda, eu com seis anos gritando pela sala e ela pedindo para fazer silêncio; meu avô também Promotor a gente via outra realidade, outro MP, como ele trabalhava, como era respeitado.
Meu pai é engenheiro civil, mas nesse ponto aí minha mãe foi mais incisiva dentro de casa. Fiz testes vocacionais e os resultados só davam para o curso de Direito. Até brincava com minha mãe, dizendo que ela encomendou os testes vocacionais. Confesso que não achei que seria possível fazer o concurso e ser nomeado no MP em Alagoas, porque o último concurso foi em 1996. Eu imaginei que o próximo concurso seria em breve e não fosse contemporâneo com minha preparação para concurso público. Eu iniciei minha faculdade em 2002 e me formei em 2007, exigiria ainda três anos de prática jurídica, mas até nisso o tempo foi favorável, as preces e os pensamentos positivos me ajudaram. Em 2012 lançaram o edital do Ministério Público, eu já estava cinco anos com prática jurídica, participando da Advocacia, eu nunca quis sair de Alagoas, meu sonho sempre foi ficar em Alagoas, apesar das dificuldades financeiras e sociais, mas é um estado que criei raízes, e nunca quis prestar concursos em outro local. Prestei concurso para Defensor Público em Alagoas , mesmo sem ter a prática jurídica, tão logo me formei. Cheguei a passar na primeira fase, mas não consegui prosseguir e aí consegui me preparar para o concurso do MP, não fui classificado imediatamente nas vagas disponíveis. O MP passou alguns anos de dificuldades no cenário nacional e ainda vem passando e até nessa demora também me ajudou, eu devo muito ao Procurador-geral de Justiça Alfredo Gaspar, subprocurador-geral de Justiça Márcio Roberto e o presidente da Ampal Flávio Gomes que reconheceram que o MP necessitava de mais promotores e nomearam 44 novos promotores e chegaram a completar o quadro do MP e hoje eu não me arrependo de uma vírgula, eu lembro do meu primeiro dia de trabalho em Santana do Ipanema, cheguei em casa às 21h:30 parei o carro morto de cansado, mas feliz, só tenho o que agradecer.
Procurador de Justiça José Auto Monteiro Guimarães
Como o senhor se sente ao ver sua filha e neto continuando sua carreira no Ministério Público?
Júlia, minha esposa, foi a maior incentivadora para que Denise fizesse Direito; eu não a estimulava muito. Júlia também incentivou o Dr. Jorge Dória a estudar para concurso, meu ex genro, e ele seguiu os conselhos dela, eu acompanhei de perto a nomeação de Denis, que sempre foi muito estudioso. Foi um tempo sofrido, de esforço hercúleo, de dedicação sem trégua. Mas, enfim, chegou a hora dele. O talento, conjugado com a abnegação persistente e tenaz, e as preces maternas, o fizeram exitoso. De formas que hoje, ao contemplar a trajetória fulgurante de ambos, Denise e Dênis, encho-me de orgulho e satisfação inefáveis. Agradeço ao bom Deus por tamanha felicidade.
Promotor de Justiça Max Martins
Como o senhor se sente fazendo parte da família Guimarães?
A minha família também tem uma linhagem na área jurídica e o meu pai conhecia muito Dr.José Auto e era engraçado porque papai chegava e dizia: eu estive com Dr. José Auto e eu imaginava ser uma pessoa bem alta. Passou-se o tempo, eu fiz alguns concursos. Quando fiz meu concurso, que foi em 1996, eu ingressei no MP, cujo Corregedor era o Dr. José Auto. Ele também conhecia muito vovô. A vida foi passando, fui promovido para capital aqui na Promotoria do Consumidor e conheci Denise. A vida aproximou a gente e acabamos casando. Fui agraciado em entrar na família Guimarães. Nessa época, quando comecei a namorar Denise e depois casar, pude participar na formação de Dênis que estava no primeiro ou segundo período de Direito. Quando Dênis morava lá em casa antes de casar, a gente sentava para tomar café ou almoçar, a gente só falava em Direito. Pra mim é motivo de muito orgulho ter me agregado à família Guimarães.
Por Cínthia Fernanda